Prefeito de Goiânia enfrenta críticas por abordagens truculentas e exposições midiáticas, enquanto especialistas questionam a eficácia de sua estratégia de comunicação
As recentes aparições do prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (UB), em vídeos nas redes sociais geraram polêmica e críticas de especialistas em políticas públicas e marketing político. O tom mais agressivo e cenas consideradas populistas levantam questionamentos sobre a eficácia dessas ações tanto em termos de impacto prático quanto de estratégia de comunicação.
A controvérsia mais recente ocorreu no domingo (23), quando Mabel publicou um vídeo repreendendo trabalhadores no Bairro São Francisco devido ao acúmulo de lixo em espaço público. Já na segunda-feira (24), o prefeito voltou a ser alvo de críticas após divulgar imagens interrompendo o trânsito na Avenida T-63 para recolocar a tampa de um bueiro, incentivando a população a seguir seu exemplo.
Durante entrevista à rádio CBN Goiânia, Mabel defendeu sua postura, classificando-a como seu “estilo” e minimizando a repercussão negativa. Entretanto, a forma como ele tem abordado cidadãos em locais públicos já havia provocado reações em episódios anteriores, como quando repreendeu um homem por tentar descartar um sofá em um terreno baldio e exigiu medidas de limpeza por parte de flanelinhas na Praça Tamandaré.
Críticas à estratégia de comunicação
Especialistas entrevistados pelo jornal O Popular apontam que, embora a presença do prefeito nas ruas seja bem recebida após os problemas enfrentados na gestão de Rogério Cruz (SD), a maneira como Mabel se posiciona pode gerar mais rejeição do que apoio.
O pesquisador do Núcleo Goiano do Observatório das Metrópoles e doutor em desenvolvimento econômico, Marcos Haddad, critica a abordagem do prefeito, classificando-a como autoritária e ineficaz. Para ele, campanhas educativas e incentivos à reciclagem seriam estratégias mais adequadas para combater o descarte irregular de lixo. “A sociedade não gosta de ser confrontada dessa maneira. Isso gera revolta e não engajamento”, afirma. Haddad também destaca que há uma percepção de que Mabel age de forma mais dura contra pessoas de bairros periféricos, o que poderia criar um sentimento de injustiça entre os cidadãos.
Ao jornal, Marcos Marinho, professor de Comunicação e Marketing, comparou Mabel ao ex-governador de São Paulo, João Doria, mas com um tom ainda mais agressivo. Ele alerta para os riscos políticos dessa postura, lembrando que Doria enfrentou dificuldades para consolidar sua imagem junto ao eleitorado. “O cidadão que se sente humilhado tende a criar resistência. No longo prazo, isso pode se voltar contra o próprio prefeito”, analisa Marinho.
Ações consideradas midiáticas
Outro ponto levantado pelos especialistas é que o foco de Mabel em ações de zeladoria pode ser visto como um desvio das funções estratégicas de um prefeito. O mestre em Arquitetura e Urbanismo e especialista em Planejamento Urbano e Ambiental, Gerson de Souza Arrais Neto, destaca que o problema do lixo na cidade exige um planejamento de longo prazo, com reforço na fiscalização e educação ambiental. “O prefeito não pode agir como um xerife ou youtuber, buscando inflar sua própria imagem”, critica.
O advogado e especialista em Direito Administrativo, Juscimar Ribeiro, também vê abuso de autoridade na exposição de cidadãos nos vídeos. Segundo ele, eventuais infrações devem ser tratadas dentro dos trâmites legais da administração municipal, garantindo direito de defesa aos envolvidos.
Reações políticas e impacto eleitoral
A oposição em Goiânia tem aproveitado a polêmica para reforçar críticas à gestão de Mabel. O ex-deputado estadual Fred Rodrigues (PL), que disputou o segundo turno contra o atual prefeito, ironizou nas redes sociais: “Tigrão com a população e tchutchuca com os políticos que atrasam a cidade”. O deputado federal Gustavo Gayer (PL) questionou se o prefeito teria a mesma postura em bairros nobres da capital.
Com um estilo de governança que divide opiniões, resta saber se a estratégia de Sandro Mabel surtirá efeito positivo ou se poderá comprometer sua popularidade a longo prazo.
